Dia do Perdão!

Caríssimo leitor! Este é o terceiro artigo de minha autoria neste projeto, e quis conservar a mesma perspectiva: sob a égide da espiritualidade cristã, compartilho nuances de fé encarnada, ou seja, a partir da Tradição renovar o nosso dia a dia.

Se meu primeiro artigo falava do renascimento e o segundo abordava o mesmo tema na perspectiva de um novo tempo, hoje compartilho com você outra beleza da tradição judaica da qual bebemos: para o judeu, dez dias após o Ano-Novo (Rosh Hashaná) celebra-se o Yom Kipur, ou seja, o dia do perdão.  É o dia mais sagrado para um judeu devoto, e neste ano, foi celebrado entre os dias 15 e 16 de setembro. Neste dia, o judeu dedica 24 horas de jejum absoluto a fim de suplicar perdão a Deus, pelas suas faltas e de toda a nação. A base bíblica está em Levítico 23,24: “No décimo dia do sétimo mês será o dia das Expiações. Tereis uma santa assembleia: humilhareis vossas, almas e oferecereis ao Senhor sacrifícios queimados pelo fogo”.

Primeiramente, gostaria de assinalar essas grandes diferenças entre o judaísmo e o ocidente: enquanto nós iniciamos um novo ano com muitas festas, e na maioria das vezes, já matamos na praia do primeiro dia os projetos e esperanças que havíamos feito na véspera, o judeu começa um novo ciclo revisando o seu ano anterior, se humilhando, fazendo penitência e propondo ser melhor.

Essencialmente agrícola, o judeu sabe bem que a semeadura pode interferir na colheita!

Como escrevi no último artigo, todo dia é Ano-Novo, todo dia, é dia de recomeço! Contemplar o entardecer de um dia e vislumbrar a Aurora do outro, deve ser motivo para “re-crer”: ainda é possível de ser novo, de novo! Contudo, é urgente pararmos de começar nossos novos ciclos de modos velhos!

A maioria das curas realizadas por Jesus ultraava a realidade física: quando o Senhor perdoa a mulher que fora apanhada em adultério diz: “vai e não peque os mais” (Jo 8, 11)… quando liberta o endemoninhado gadareno ordena: “Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se compadeceu de ti” (Mc 5,19)… e o mais significativo: quando cura um cego, “mandou-o para casa, dizendo-lhe: Não entres nem mesmo na aldeia” (Mc 8,26). É notório que este retorno a cotidianidade não implica em um retrocesso à vida anterior, mas o novo recomeço, um verdadeiro upgrade!

Recentemente, uma rápida chuva caiu na nossa terra, e já foi o suficiente para o reviver de muitas plantas. Igualmente, pela fé, iniciar novos ciclos é ouvir a Palavra de Deus, permitir que ela caia em nosso coração, e abandonar velhas cascas para iniciar novas propostas;

Nesta perspectiva, reconhecer-se ilimitado, frágil e fraco, não é um demérito, mas uma virtude: é a partir da fragilidade que se abre para a misericórdia de Deus e para o perdão do outro: “Mas ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força” lembra Paulo (IICor 12,9)!

Quem sabe este é o segredo para os novos recomeços que a vida nos exige: ao invés de acreditar nas potencialidades, fantasias e ilusões, ser como barro na mão do oleiro (Jer 18) e dizer ao Senhor “Eis-me aqui! Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38)?

Para começar novos tempos, menos “curtição” e mais conversão… é urgente! Tempus fugit.

 

Padre Dione Piza

Pároco da Paróquia São Sebastião de Juruaia/MG